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Não existe consumo de álcool isento de riscos
Apesar de significativos avanços científicos na área da dependência química, a identificação e o diagnóstico de dependência de álcool seguem abaixo do ideal.
A síndrome de abstinência de álcool é passível de tratamento ambulatorial. Vitaminas e benzodiazepínicos são as bases desse tratamento.,
Os principais medicamentos para tratamento da dependência de álcool são dissulfiram, naltrexona e acamprosato.

Entenda sobre o alcoolismo e seus riscos, consumo, causas e também estatísticas.

O alcoolismo, compreendido cientificamente como síndrome de dependência de álcool (SDA), é sem dúvida um grave problema de saúde pública, sendo um dos transtornos mentais mais prevalentes na sociedade.

Trata-se uma patologia de caráter crônico, passível de muitas recaídas e responsável por inúmeros prejuízos clínicos, sociais, trabalhistas, familiares e econômicos.

Ademais, é com frequência associada a situações de violência (sexual, doméstica, suicidio, assalto, homicídio), acidentes de trânsito e traumas.

Em âmbito global, o consumo de álcool tem aumentado nas últimas décadas, com predominância de avanço nos países onde existe pouca tradição de políticas sociais de controle do uso de álcool, assim como em métodos de prevenção e tratamento.

A tabela 12.1 ilustra os 20 países com maior consumo de álcool.

No Brasil, dados do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID), referentes aos dois levantamentos domiciliares de uso dessas drogas realizados no País, mostram que a prevalência do consumo de álcool na vida aumentou de 68,7 para 74,6, e a dependência de álcool, de 11,2 para 12,3%, entre 2001 e 2005.

O primeiro estudo nacional sobre os padrões de consumo de álcool no Brasil foi desenvolvido com uma amostra de 2.346 indivíduos maiores de 18 anos, cuidadosamente selecionados em todo território brasileiro, e, por meio de procedimento probabilístico em múltiplos estágios, apontou que 48% da população adulta é abstêmia.

Entre os entrevistados que beberam alguma quantidade de álcool no último ano, 29% consumiam em geral cinco ou mais doses por ocasião.

Taxa de Amostra

O primeiro estudo nacional sobre os padrões de consumo de álcool no Brasil foi desenvolvido com uma amostra de 2.346 indivíduos maiores de 18 anos, cuidadosamente selecionados em todo território brasileiro, e, por meio de procedimento probabilístico em múltiplos estágios, apontou que 48% da população adulta é abstêmia.
Entre os entrevistados que beberam alguma quantidade de álcool no último ano, 29% consumiam em geral cinco ou mais doses por ocasião.
Na amostra total, 28% beberam em binge, 25% relataram pelo menos um tipo de problema relacionado ao consumo dessa substância, 3% satisfizeram critérios para uso nocivo e 9% para dependência de álcool’ Surpreendentemente, contrariando a “fama” ou a “reputação” de que brasileiros são muito adeptos a bebida de álcool, é possível observar que o grau de abstinência da população do país é considerado alto, se comparado ao de outros países.

No entanto, os bebedores apresentam elevado nível de consumo de risco. 

A prevalência de problemas relacionados ao uso, ao abuso e à dependência de álcool também é significativa.” 

O estudo mostrou ainda que o número anual de unidades de álcool consumidas por adultos de ambos os géneros, de qualquer idade e região do país, é composto quase 60% por cerveja, evidenciando-a como preferência nacional, apesar  de o país ter como produto de exportação mundialmente conhecido a cachaça.

Os 10 países com maior consumo de álcool (cerveja, vinho e destilados) na população adulta mundial.

Tabela 12.1

Cerveja

  • República Tcheca – 9,43
  • Irlanda – 9,24
  • Swazilândia – 7,49
  • Alemanha – 7,26
  • Áustria – 6,42
  • Luxemburgo – 6,16
  • Uganda – 6,14
  • Dinamarca – 6,02
  • Reino Unido – 5,97
  • Bélgica – 5,90

Vinho

  • Luxemburgo – 9,43
  • França – 8,38
  • Portugal – 7,16
  • Itália – 6,99
  • Croácia – 6,42
  • Suiça – 6,23
  • Argentina – 5,63
  • Espanha – 5,07
  • Bermudas – 4,95
  • Grécia – 4,78

Outras bebidas alcoólicas

  • República da Moldávia – 10,94
  • Reunion – 8,67
  • Rússia – 7,64
  • Santa Lúcia – 7,27
  • Dominica – 7,20
  • Tailândia – 7,13
  • Bahamas – 7,05
  • Letônia – 6,62
  • Haiti – 6,46
  • Bielorússia – 6,34

Infelizmente, a dependência de álcool é subdiagnosticada, além de a doença ter difícil tratamento.?

Outro fator problemático é o diagnóstico e o estabelecimento de tratamento adequado tardios, o que piora o prognóstico e propicia uma falsa ideia de que pacientes dependentes de álcool raras vezes se recuperam.

Quanto mais precoces o diagnóstico e o tratamento, melhores são as chances de resultados satisfatórios.

Alguns dos desafios futuros a serem superados pelos gerenciadores de saúde são a capacitação de profissionais da saúde e o estabelecimento de uma eficiente rede integrada de serviços que ofereça apoio assistencial para a demanda de atendimento secundário e terciário, que será revelada de modo inevitável à medida que as equipes de saúde se tornem mais habilitadas a re- conhecer e tratar os problemas relacionados ao uso de álcool.?.10 Há até pouco tempo, internação em hospital psiquiátrico e grupos de mútua ajuda eram as únicas alternativas terapêuticas no tratamento do alcoolismo e no uso problemático de álcool.

Atualmente, o aprimoramento das intervenções psicossociais, associado ao surgimento de novos fármacos, a redução do caráter moral na compreensão do alcoolismo e o incentivo à participação da família no processo de tratamento têm contribuído para que uma parcela cada vez maior de pacientes seja tratada por não especialistas, sobretudo em ambientes ambulatoriais.

Assim, as políticas públicas nacionais devem levar em consideração todos os fatores citados, os quais incluem também o tipo de bebida mais consumida, a frequência e a quantidade de consumo, as variáveis sociodemográficas (p. ex., idade, gênero, status econômico), assim como diferenças regionais, capacitação, ampliação e matriciamento da rede de assistência ao dependente de álcool no Brasil

CONCEITOS IMPORTANTES RELACIONADOS AO BEBER

Unidades de álcool

O consumo de álcool é medido por um conceito denominado unidades de álcool.

Cada unidade da substância equivale a 10 gramas de álcool puro.

Para obter as unidades equivalentes, é necessário multiplicar a quantidade de bebida por sua concentração alcoólica.

Na prática, há dificuldades de obter esses valores com precisão, uma vez que existem variedades de bebidas com diferentes apresentações alcoólicas, as quais nem sempre são condizentes ou reveladas no rótulo.

Além disso, o tamanho das doses não é padronizado.

Pode-se citar a cachaça de produção artesanal ou oriunda de alambiques clandestinos, cuja concentração alcoólica pode chegar a 76%. Também, a quantidade de uma dose pode ser influenciada por diversos fatores, como tamanho do copo, quantidade de gelo, quantidade oferecida para “o santo” e o famoso “chorinho”.

A Figura 14.1 ilustra as concentrações de álcool dos diferentes tipos de bebidas em suas respectivas doses-padrão/ usuais. Para fazer o cálculo, por exemplo, de uma pessoa que bebe três doses de uísque por dia, é preciso considerar os seguintes aspectos: cada dose de uísque tem em média 50 mL, logo, essa pessoa estaria ingerindo 150 mL. de uma bebida alcoólica destilada cuja concentração é aproximadamente 40%.

N° de unidades x 150mL(volume) / 0,4(concentração) = 6 unidades de álcool

Se uma unidade de álcool equivale a 10 gramas de álcool puro, isso significa que a pessoa do exemplo ingeriu 60 gramas de álcool.

Ao longo da semana, essa pessoa ingeriria 42 unidades de álcool, ultrapassado, em grande escala, a faixa do beber de baixo risco (figura 14.2).

Figura 14.2 – Concentração alcoólica em diferentes tipos de bebidas.

Beber de baixo risco e beber em binge

Beber de baixo risco

É consenso entre especialistas que não existe consumo de álcool isento de riscos.

Sabe-se que o uso do álcool está associado a diversos problemas, mas qual seria a quantidade de consumo necessária para que isso ocorra?

Apesar de essa ser uma questão bastante polêmica e não claramente respondida, existe um nível de consumo associado a baixo risco de desenvolver problemas.

Esse consumo é diferente para o gênero masculino (21 unidades de álcool no período de uma semana) e para o feminino (14 unidades de álcool também no período de uma semana).

Beber em Binge

A palavra binge, proveniente do idioma inglês, traduzida literalmente significa “bebedeira” ou “farra”.

Na literatura científica, esse termo tem sido utilizado para expressar um padrão de beber no qual a quantidade é de cinco doses para homens e quatro para mulheres, em uma só ocasião.

Em outras palavras, seria beber uma quantidade igual ou acima dessa em um curto período de tempo.?

Devido aos elevados custos sociais e aos danos para a saúde relacionados, o “beber em binge” mesmo que esporádico, tem chamado mais a atenção de autoridades e pesquisadores do que propriamente o uso de álcool pelos pacientes que já têm dependência estabelecida.

Os efeitos do beber em binge podem ser influenciados por uma série de fatores, como:

  • Peso: quanto maior o peso de um indivíduo, menor é a concentração sanguínea de álcool
  • Idade: quanto mais precoce o início do consumo de bebidas alcoólicas, maiores são as chances de danos cerebrais e problemas relacionados ao beber.
  • Velocidade de consumo: quanto mais rápido o consumo de bebida alcoólica, maior o tempo de metabolização e eliminação do conteúdo alcoólico ingereido.
  • Presença de alimento no estômago: diminui as chances de rápida intoxicação alcoólica.
  • Número de doses consumidas: quanto maior o número de doses consumidas, maior a tendência a intoxicação.

O beber em binge tem sido associado a um padrão típico de adultos jovens e adolescentes.

Internacionalmente, esse fenômeno vem recebendo atenção por meio de campanhas que alertam sobre os perigos relacionados a esse tipo de consumo.

Na Inglaterra, por exemplo, diversos meios de comunicação alertam sobre homicídios, assalto, violência doméstica, agressões físicas e violência sexual relacionados ao beber.]

Quadro clínico e manejo dos principais transtornos mentais relacionados ao uso de álcool

Intoxicação alcoólica aguda

A intoxicação alcoólica aguda é uma condição clínica transitória decorrente da ingestão de bebidas alcoólicas acima do nível tolerado pelo indivíduo, o que produz alterações psíquicas e físicas suficientes para interferir em seu funcionamento normal.

Seus estágios variam de embriaguez leve a anestesia, coma, depressão respiratória e, mais raramente, morte.

É importante observar que as mulheres atingem níveis sanguíneos mais elevados do que os homens devido a seu maior grau de gordura.

As alterações de comportamento decorrentes da intoxicação alcoólica aguda incluem exposição moral, comportamento sexual de risco, agressividade, labilidade de humor, diminuição do julgamento crítico, funcionamento social e ocupacional prejudicados.

Mais especificamente, a intoxicação pode provocar alterações variáveis no afeto (excitação, alegria, irritabilidade), na fala (fala pastosa ou arrastada), no comportamento (impulsividade, agressividade, diminuição do desempenho motor e ataxia) e no pensamento (pensamento lento, redução da capacidade de raciocínio e juízo crítico), além de hálito etílico, conjuntivas hiperemiadas e marcha ébria

Há também um aumento da suscetibilidade a acidentes de trânsito, violência, ideação suicida e tentativa de suicídio.

O beber está fortemente associado a ideação suicida, e, em mulheres, isso pode ocorrer até mesmo com o beber ocasional.

Cherpitel e colaboradores, em uma revisão da literatura sobre o uso agudo de álcool e o comportamento suicida, observaram uma gama extensiva de casos álcool-positivos tanto para o suicídio (10 a 69%) como para tentativas de suicídio (10 a 73%).

Manejo da intoxicação alcoólica aguda

A intoxicação aguda por álcool é autolimitada.

Muitas vezes, apenas assegurar a interrupção da ingesta de álcool, posicionar o paciente em decúbito lateral, para evitar broncoaspiração de vômitos, e proporcionar um ambiente seguro e livre de estímulos podem ser medidas efetivas.

Em outras ocasiões, o paciente pode apresentar agitação psicomotora e heteroagressividade.

Nesses casos, é importante mobilizar a equipe de contenção, que deve ser previamente treinada para eventual imobilização do paciente, visando protegê-lo, proteger a equipe, outras pessoas e o patrimônio do local de atendimento.

O exame físico deve ser feito o quanto antes, a fim de detectar sinais e sintomas de complicações clínicas agudas (p. ex, crises hipertensivas, traumatismos craniencefálicos, sangramentos, hipoglicemia) ou complicações clínicas relacionadas à cronicidade da patologia (p. ex. hepatomegalias e desnutrição).

Para essa avaliação, recomenda-se a aferição de pressão arterial, de glicemia capilar e temperatura axilar, ausculta cardíaca e pulmonar, inspeção de integridade cutinga e exame neurológico sumário.

Os exames laboratoriais são necessários, sendo hemograma, exames de função hepática, função renal e eletrólitos os indicados nesses casos.

Exames complementares (p. ex, radiografia de ultrassonografia abdominal, tomografia computadorizada de crânio) serão solicitados conforme a apresentação clínica do paciente avaliado.

Para todos os pacientes está indicado o uso de campina 300 mg intramuscular (IM) como profilaxia da síndrome de Wernicke-Korsakoff, sempre 30 minutos antes da aplicação de glicose hipertônica endovenosa, se for indicada.

Deve-se lembrar que a instalação de soro fisiológico e glicose hipertónica endovenosa é conduta utilizada somente se o paciente estiver desidratado e hipoglicêmico, não sendo uma prática recomendada para interrupção da intoxicação ou para abreviar tempo de permanência do paciente no pronto-socorro.

É importante também evitar medicações que possam ler efeito cruzado com álcool.

Isso inclui benzodiazepina- cos e histamínicos (prometazina). Em casos de agitação psicomotora e heteroagressividade, dar preferência aos antipsicóticos de alta potência, como haloperidol 5 mg, com intervalos de 30 minutos entre uma dose e outra, até a sedação.

Houve entusiasmo inicial gerado pela mídia, principalmente a virtual, sobre o pidolato de piridoxina, o qual evidenciou vantagens da medicação na intoxicação aguda pelo álcool como baixo custo, baixo perfil de efeitos colaterais e uma estratégia para quem quer beber demais e não ficar de “ressaca” ou ser pego no teste de bafômetro.

No entanto, não existe evidência científica suficiente de que a medicação possa ser utilizada em casos de intoxicação aguda.

Porém, o pidolato de piridoxina tem sido associado a tratamento coadjuvante da esteatose hepática (fígado gorduroso), com uma tendência a desfechos satisfatórios.

Na Europa, a mesma medicação é conhecida como metodoxina.

A posologia recomendada é de 1 a 4 comprimidos de 500 mg ao dia, sendo contra-indicada para pacientes que fazem uso de medicações parkinsonianas.

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